Brasileirinho tocando no último volume, unhas pintadas de verde e amarelo, camiseta do Brasil devidamente guardada pelos últimos quatro anos finalmente sendo vestida. Pressão no chefe pra liberar mais cedo em dia de jogo, permissão para fingir que entende de futebol mesmo sem saber o nome de metade da seleção…
Eu sei que estamos em ritmo de copa, mas essa edição (ainda) não é sobre ela.
Antes de falar de COPA precisamos falar da COP.
Ah, não esquece que lá no fim da news tem algumas doses de teoria para se aprofundar, cases para se inspirar e links aleatórios que valem no clique.
Vem comigo?
Vou aproveitar que o primeiro jogo do Brasil ainda não aconteceu e temos algumas horas sem pensar exclusivamente no hexa para interromper a programação da Copa do Mundo e falar sobre a COP27.
Pra você que não faz a menor ideia do que eu tô falando, vou simplificar dizendo que a COP é tipo a Copa do Mundo da galera da sustentabilidade.
Quem trabalha nesse meio sabe que todo ano institutos, fundações, pesquisadores, ativistas e qualquer um que se envolva no assunto marca os dias da COP na agenda porque sabe que de lá vão sair informações importantes para o próximo ano.
Se eu fosse resumir a COP em um tweet eu diria que:
Basicamente, essa reunião é o termômetro que marca quais países estão mais os menos dispostos a contribuir para a mitigação das mudanças climáticas.
Esse ano a COP reuniu 197 países por duas semanas e teve até prorrogação.
No calendário, a COP e a Copa ficaram tão juntinhas que até o Google se confundiu:
Apesar da ideia ser boa, a conferência normalmente vem acompanhada de notícias difíceis de engolir, como o fato de estarmos avançando em um ritmo muito lento para o tempo que o planeta tem nos dado para solucionar todos os problemas que nós mesmos criamos.
Além disso, não é fácil ver autoridades internacionais chegando no maior evento sobre o clima do mundo de jato particular, que são de 5 a 14 vezes mais poluentes do que os aviões comerciais (por passageiro) e 50 vezes mais poluentes do que os trens. Entre os nomes desse ano estava o presidente eleito Lula, criticado por apoiadores e opositores por pegar carona no jatinho de um milionário.
Infelizmente, todo ano terminamos a COP com controvérsias e metas que dificilmente serão cumpridas ou prazos mais longos do que o mundo precisa. Mas, apesar dos acordos entre os países serem uma parte importante da conferência, hoje quero chamar atenção para duas questões que vão além dos documentos envolvendo termos científicos ou das polêmicas que ainda assombram o evento.
1: Como a COP é comunicada?
Como parte dessa bolha que trabalha com sustentabilidade e escuta o termo “mudanças climáticas” todo dia, me preocupa a visibilidade do evento para o público em geral.
Não estamos falando de uma conferência qualquer, são quase 200 países chegando à uma conclusão unanime todos os anos sobre um tema cada vez mais relevante para o mundo inteiro, avançando ou regredindo em pautas que influenciam todos os países.
Os resultados de uma COP podem impactar a economia. Sim, a famosa e preciosa economia, sempre pauta de discussões políticas e a primeira a ser defendida acima de qualquer outra coisa como, por exemplo, a necessidade do isolamento social durante uma pandemia global.
Não seria esse um assunto que devia estar um pouco mais nas discussões cotidianas? Assim como as eleições dos Estados Unidos, a guerra na Ucrânia ou tantos outros temas globais que furam suas bolhas mesmo que, por vezes, superficialmente?
Esse ano, o Brasil foi um dos protagonistas do evento. Isso porque o fim do governo Bolsonaro representa para muitos uma chance de retomar os planos de preservação e restauração da Amazônia, que tem um papel importantíssimo na regulação do clima e, por isso, interessa tanto aos nossos amigos gringos.
Mas ai eu te pergunto: quanto do evento foi comunicado por aqui? E quanto do comunicado foi traduzido de maneira que a população entenda e se interesse pelo assunto?
A urgência da crise climática é tanta que até uma parceria com a @choquei para atingir o grande público seria bem-vinda.
Brincadeiras à parte, isso nos leva ao segundo ponto.
2: Quais marcas foram pra COP?
Sim, elas estão lá.
A COP é um evento de relevância que concentra discussões avançadas sobre o futuro no mundo todo e por isso tem sido cada vez mais procurada por empresas, sobre tudo as comprometidas com a agenda climática, como uma oportunidade de investigar novos mercados.
O setor empresarial tem o papel de acompanhar as negociações governamentais, assistir e participar de painéis técnicos com especialistas internacionais e fazer parte de discussões empresariais paralelas sobre tendências e desafios climáticos brasileiros e globais.
“Grandes detentoras do capital, a participação das marcas na conferência é reforçada por uma meta de que os países em desenvolvimento necessitam de US$ 1 trilhão de financiamento climático externo anuais até 2030”.
Entre os grandes nomes estão Microsoft, Siemens, Google e Coca-Cola. Essa última inclusive foi alvo de uma petição online, assinada por mais de 230 mil pessoas, por sua retirada do evento. Uma parte da carta diz:
“A Coca-Cola gasta milhões de dólares em greenwashing de sua marca, fazendo-nos acreditar que eles estão resolvendo o problema”.
Entre as marcas brasileiras presentes estavam:
A Malwee, que aproveitou a participação na COP27 para lançar uma plataforma de inovação sustentável para empresas de moda e outros setores.
O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que participou da COP pela primeira vez, apresentando soluções contra os efeitos das mudanças climáticas desenvolvidas por pequenos negócios brasileiros.
Outras marcas como Simple Organic, Suzano Celulose e ConnectFarm também participaram de painéis e serviram como cases durante o evento.
1+2: Juntando os pontos
Isso tudo me faz pensar como as marcas brasileiras podem:
explorar mais espaços no evento (se isso refletir um interesse genuíno da marca e estiver alinhado com as suas estratégias. A ideia aqui não é acabar igual a Coca-Cola, né?)
Existem tantas possibilidades nessa área que este ano a Iniciativa Empresarial em Clima (IEC), principal articulação de empresas brasileiras em torno do tema das mudanças climáticas, criou um guia para nortear a participação do setor empresarial brasileiro na COP27 e ajudar empresas a identificarem oportunidades de ação.
Segundo o guia: “O Brasil está posicionado de forma única e tem um caminho claro pela frente para desencadear soluções climáticas eficazes em escala para o mundo”.
estampar essa participação em suas respectivas campanhas de comunicação e, consequentemente, fazer a conferência e o tema chegar de maneira didática e interessante para os seus consumidores.
As marcas tem o poder de direcionar o olhar do consumidor para onde ela está. Porque não fazer isso para dar visibilidade a um evento tão importante quanto a COP?
Existe uma expectativa de que a COP28, em 2023, tenha ainda mais protagonismo do Brasil, principalmente diante do compromisso de priorizar a agenda climática que o novo governo tem declarado. Durante essa edição, foi levantada a possibilidade da COP30, em 2025, acontecer na Amazônia. Tudo leva a crer que essa grande conferência ganhe cada vez mais relevância por aqui nos próximos anos.
Quais serão as marcas que sairão na frente na tentativa de aproximar seus públicos dessa causa e ocuparão a posição de pioneiras quando o assunto finalmente começar a ser debatido com maior amplitude no Brasil?
Algum palpite? Me manda nos comentários ou responde esse e-mail, tô curiosa.
Na COP do ano que vem a gente volta nessa pergunta e vê se alguma coisa mudou.
🔎 Teoria para se aprofundar
Os links dessa edição são focados na COP, como era de se esperar. Se você quiser se aprofundar no assunto aqui vão alguns conteúdos:
🎨 Esse infográfico explica toda a história da COP, mas é todo em inglês.
📍 Essa página resume de um jeito fácil o por quê da conferência e o que estava em pauta esse ano.
🎞 Esse bate-papo com jornalistas brasileiros e estrangeiros na TV Cultura reflete sobre o momento de retomada do Brasil nas conferências ambientais.
🎧 Esse podcast fez um resumão do que rolou nessa edição:
✨ Case para se inspirar
Pensando em como marcas podem dar visibilidade a um evento como a COP, lembrei desse comercial da Natura que foi ao ar no período das eleições e convidou o consumidor a votar levando o meio ambiente em conta.
Totalmente alinhado com o que a Natura vende, em uma linguagem didática que chega até o consumidor por meio da TV aberta. Também teve essa no intervalo do debate entre candidatos à presidência que eu achei bem incrível.
Simples, clara e efetiva.
Lembrou de mais alguma campanha que funcionaria aqui? Já sabe, né? Compartilha aqui nos comentários que eu quero saber:
📌 Links aleatórios que valem o clique
🧶 Um vídeo aleatório que me fez respirar devagarinho essa semana. Talvez eu tenha achado a cura pra ansiedade.
🎧 Celebramos no último domingo o Dia da Consciência Negra, e eu não podia deixar de compartilhar por aqui o podcast que mais me fez refletir sobre racismo estrutural no Brasil. Cada episódio é uma aula que vale muito ser ouvida.
🎵 Acho que a retrospectiva do Spotify tá chegando… Ontem ele me lembrou que ouvi essa música 28 vezes em 2021 e eu já fiquei na expectativa de saber qual foi a mais ouvida de 2022. Espertos, né?
Muito obrigada por me emprestar 8 preciosos minutos da sua semana (:
Essa edição foi um pouco mais longa e sofrida de escrever.
Em parte porque o tema me faz querer falar por horas sobre mil coisas diferentes, e em parte porque fiz aquela famosa cirurgia para parar de usar óculos e fiquei uns dias sem conseguir escrever nada, só com o assunto fervilhando na cabeça enquanto fazia compressa gelada no olho 🤡
Fiquei curiosa pra saber sua opinião. Se tiver alguma, já sabe onde me encontrar.
Até terça que vem!
Le da Teoricamente