[tempo de leitura: 5 minutos]
hoje chegamos a 50ª edição da teoricamente.
por coincidência (ou destino) hoje também atingimos a marca de 500 inscritos.
500.
um número bem pequenininho comparado aos muitos dígitos que as redes sociais nos fizeram normalizar, mas uma conquista gigante para alguém que nunca pensou ter coragem de mostrar o que escrevia para mais ninguém.
espero que goste do que escrevi pra você hoje.
até quarta que vem,
le :)
um texto ✍🏼
conheci e emily em 2019.
era a minha primeira vez viajando sozinha, e eu fui um tanto quanto ousada na escolha do destino. dedici conhecer a cidade dos meus sonhos de criança, cenário dos meus filmes favoritos da adolescência. um lugar que parecia distante demais até que, de repente, não parecia mais.
a escolha não foi por acaso. foi, na verdade, obra do acaso. um plano minucioso que se desenrolou até que eu tivesse a chance de chegar na cidade luz… mas esse é um assunto para outro texto.
voltando ao que interessa: lá estava eu, aos 21 anos, atravessando sozinha um oceano inteiro.
tudo era novo.
a viagem de 12 horas no avião, pisar em outro país, viver uma língua diferente.
desci em amsterdãm e, numa manhã de domingo nada convencional, peguei um trem na estação central e parti rumo à paris.
lembro de andar pelos vagões procurando meu assento e me acomodar perto da janela para não perder a paisagem. enquanto observava a vida correndo rápido lá fora, me senti verdadeiramente livre.
e, pela primeira vez, todos os meus medos pareceram pequenos perto da minha coragem.
os reais eram curtos, e os euros mais ainda.
fui para paris sabendo que em algum momento as moedas faltariam. fui sabendo, mas fui mesmo assim. economizei em tudo, incluindo no quarto do hostel que não via uma boa limpeza há anos e me desencadeou a pior crise de rinite que tive até hoje.
foi nessa hospedagem empoeirada e mal localizada que conheci a emily.
no segundo dia de viagem, enquanto tomava o café da manhã, ouvi um sotaque familiar e tive certeza: brasileira.
é estranho o prazer que sentimos ao se reconhecer em outro alguém.
apesar de ser frequente esbarrar com brasileiros em qualquer destino do mundo, encarei aquele como um encontro do destino, uma companhia especial preparada para mim.
emily tinha 26 anos,
morava na austrália havia dois e há menos de um mês decidiu deixar amigos e namorado para se aventurar sozinha pela europa.
segundo ela, a austrália era incrível, mas ficava isolada do mundo. ela sentia falta dos shows, das paisagens, das comidas, das pessoas e das aventuras que a aguardavam além daquelas fronteiras.
nos quatro dias que se seguiram, emily me contou dos países que pensava em conhecer e nos planos (ainda em construção) de como chegar em cada um. ela iria para onde conseguisse um trabalho provisório, ficaria por lá o tempo que julgasse necessário e seguiria para o próximo destino.
entre os muitos conselhos que me deu, um em particular nunca saiu da minha cabeça:
“tenha sempre um caderninho por perto, para anotar o que vier na cabeça. a gente esquece o que não anota.”
ela então me mostrou tudo o que já tinha anotado: pedaços de aulas de francês, mantras, pensamentos confusos de uma noite bêbada, o que sentiu sentada na escadaria do palácio de versalhes, olhando a torre eiffel, no jardim de monet, na fila do louvre…
“não pode ser um caderno muito grande, pra você conseguir carregar em qualquer bolsa, nem muito pequeno, pra você conseguir escrever sem medo da folha acabar. e, o mais importante: ele precisa de uma capa resistente."
e então me contou rindo sobre quando derrubou café em algumas páginas:
“se não fosse a capa de couro ele ia direto pro lixo.”
cinco anos se passaram.
hoje, tenho a idade de emily quando a conheci.
tanto tempo depois e ainda lembro das nossas conversas andando sem pressa pelas ruas de paris. lembro de querer crescer como ela: livre e destemida. uma cidadã do mundo, segundo ela mesma.
me pergunto por onde será que ela anda, quantos países conheceu, se em algum momento se arrependeu de deixar tudo para trás, se o mundo era tudo o que ela esperava dele e se ela tem a mínima ideia que em um pequeno espaço da internet existe um texto sobre ela.
do meu rápido encontro com a emily eu herdei a vontade de conhecer o mundo e a ânsia por me aventurar sozinha por todos os destinos, culturas e línguas que eu conseguir listar.
dela, guardei a memória de uma boa companhia e o conselho do caderninho, que tenho sempre em mãos e, por coincidência (ou destino), tem capa de couro cor de rosa, assim como o que ela usava em 2019, para anotar concentrada suas impressões sobre as ruas de paris.
duas citações 💬
“quando escrevo algo, frequentemente penso que aquilo é muito importante e que sou uma grande escritora. acho que acontece com todos. mas há um cantinho da minha alma onde sempre sei muito bem o que sou, isto é, uma pequena, pequena escritora. juro que sei. mas não me importa muito.” - natalia ginzburg, no prefácio de belo mundo, onde você está.
“eu tenho tanto medo de ser magoada — não do sofrimento, que eu sei que aguento, mas a humilhação do sofrimento, a humilhação de estar aberta a ele.” - sally rooney e débora landsberg, em belo mundo, onde você está.
três links 🔗
um novo destino foi adicionado à minha lista de viagens depois de assistir esse vídeo [link]
viena, paris e messínia, são os cenários da trilogia "before”, lançada em 1995, que só tive o prazer de assistir (e me apaixonar) uns dias atrás [link]
conheci a islândia pelos vlogs lindos da nath araújo [link]
Seria lindo se este texto chegasse até a Emily 🩷
Parabéns pelos múltiplos de 5 (50 e 500)! que venham muito mais!
beijos!!