#80 | cicatrizes evitáveis

🍞 sobre as vezes que não damos conta

› tempo de leitura: 6 minutos

› pra ler ouvindo: água de beber | versão lo-fi

‹ edição anterior: #79 | a coitada da inspiração

---

quando eu tinha cinco anos rasguei o dedo cortando pão.

não foi por falta de aviso.

- "se precisar usar a faca me chama”

minha mãe disse lá do quarto, enquanto fazia minha irmã mais nova, recém nascida, pegar no sono.

eu não respondi, então ela emendou:

- "não usa a faca sozinha”

dois minutos depois eu entrei no quarto chorando, com a ponta do dedo do meio pingando sangue.

minha mãe se assustou, minha irmã acordou, e dai pra frente nós duas choramos juntas.

a boca da minha mãe se revezava: ora me repreendia, ora me consolava.

- "já passou, já passou"

no meio de um soluço e outro, típico de choro de criança que sabe que está errada, me envergonhei por perceber que não dei conta sozinha.

até hoje, olhando bem de perto, dá pra ver a marca que a faca fez quando encontrou a pele.

quantas das minhas cicatrizes poderiam ter sido evitadas pedindo ajuda?

algumas memórias antigas vez ou outra voltam para me ensinar.

hoje essa me achou pra lembrar que, quando tudo parecer sufoco, no cômodo ao lado pode ter alguém que me ajude a cortar o pão.

a edição de hoje é dedicada a minha mãe, que completou 61 anos no último domingo, e que continua sabendo quando preciso de ajuda - mesmo quando não sei pedir 🤎

---

---

↓ pra gente conversar

e se o problema não for a falta de interpretação de texto, mas sim de contexto?

a internet fez com que vários mundos diferentes coexistissem no mesmo lugar e ao mesmo tempo, mas não nos deu tempo suficiente pra analisar e entender cada um deles e seus diferentes pontos de vista.

ao passar os stories, os assuntos mais variados lutam por espaço na mesma tela, a um toque de distância de serem ignorados.

em 2 minutos: dou risada, me emociono, sinto raiva e me identifico com um novo meme.

tudo isso deitada na cama, antes mesmo de escovar os dentes pra começar o dia.

quando tantos assuntos ocupam nossa mente de uma vez só não sobra tempo pra analisar os contextos.

é ai que mora o perigo?

é o que sugere a reflexão da

Bia Montenegro

:

“ninguém quer gastar tempo com interpretação de texto e contexto. a gente perde muito: nuance, sutileza, ambiguidade, ironia.” [link]

-

💬 me conta: qual é sua estratégia pra usar a internet de um jeito mais saudável?

✨

“escreva sempre, mesmo pra não publicar - e principalmente para não publicar. não tenha preocupação de fazer obras primas, mas só simplesmente escrever, se exprimir, desenvolver um movimento interior que encontre em si próprio sua justificação” - carlos drummond de andrade

✨

↓ rapidinhas

› a transição não é bonita, mas a estagnação é horrível - um link com 99 frases para ler em períodos de mudança [link]

› antes de desistir de vez crie seu plano de fuga [link]

› sobre as métricas que usamos para definir sucesso. esses dias li um post de um pai frustrado por não conseguir conciliar seu projeto com a paternidade. acabei respondendo uma coisa que serviu pra mim (e pode servir pra você) ↓

---

---

oi!

chegamos na 80ª edição! nem eu acredito.

semana passada abri um chat pra gente trocar ideia. afinal, já temos um relacionamento sério, né? - 80 encontros é muita coisa.

posto links e indicações fresquinhas por lá, se quiser participar é só clicar no botão aí embaixo.

até semana que vem!

le :)

---

---

♡ ei! deixe o seu like - é assim que eu sei se você que gostou

› vem pro chat! - links e dicas extras no fim da edição

› esse é meu linkedin - também escrevo por lá (mas prefiro aqui)

› as edições anteriores da teoricamente estão aqui

› para projetos e parcerias - responda esse e-mail com a sua ideia

---