[edição 20 | tempo de leitura: 7 minutos]
Tudo muda cada vez mais rápido e, antes que você se dê conta, o futuro chegou.
Isso vale pra tudo, né? Mas é ainda mais certo quando falamos do mundo digital. Tem muita gente anunciando o fim das redes sociais e, como sempre, a pergunta que não quer calar é: “para onde estamos indo?”
Para descobrir o que tem lá na frente, é preciso olhar para trás.
Quando eu tinha dez anos, me inscrevi em um concurso de escrita na escola.
Fui pra casa com uma folha em branco e, por dias, só pensei naquilo.
“O que escrever? Do que quero falar? Em qual formato?”
No fim, acho que saiu uma poesia. Não lembro do título, nem do tema, mas sei que antes de entregar senti um frio na barriga estranho. Uma sensação nova, que nunca tinha experimentado.
Foi assim que publiquei meu primeiro texto.
Eu demoraria uma faculdade de moda inteira para perceber que eram as palavras, e não as roupas, que me fascinavam de verdade.
Depois de quase 15 anos, tomei coragem de publicar meus textos de novo, mas o mundo parecia ocupado demais para prestar atenção em qualquer coisa.
“Agora o Youtube tem o ‘Shorts’, então nem precisei assistir o vídeo inteiro da receita, eles ensinam em menos de 1 minuto".
Foi o que meu namorado me disse esse fim de semana, quando me contou de um macarrão gostoso que aprendeu a fazer. O Shorts é tipo uma versão do Tik Tok dentro do Youtube, com vídeos curtinhos.
Depois de ouvir isso, me peguei pensando em como minha tia, hoje com mais de 70 anos, costumava me pedir para anotar as receitas dos programas de culinária que passavam na TV.
Entre um comercial e outro, lá se ia o programa todo e nada da receita terminar. E eu, ainda criança, nem piscava pra não perder as quantidades.
Sorte que o Louro José sempre repetia tudo.
Quando decidi compartilhar meus textos na internet, enfrentei as mesmas perguntas do meu eu de 10 anos.
“O que escrever? Do que quero falar? Em qual formato?”
Mas, dessa vez, a última pergunta foi a que mais me perturbou. Porque hoje tudo é rápido, mastigado, instantâneo. Tudo é muito e ao mesmo tempo.
Os antigos episódios semanais das séries, agora são publicados em um dia só
Pra ler um livro novo, basta apertar um botão e baixá-lo no Kindle
Os programas de culinária viraram vídeos de cinco minutos (que já são considerados longos demais)
Eu sabia desde o início que meus textos não se encaixavam nesse mundo instantâneo e por isso levou um tempo até entender onde eles caberiam.
Enquanto tentava achar uma solução, descobri que eu não era a única andando na contra-mão.
Estamos no começo de uma mudança significativa na criação de conteúdo (e não sou eu que tô dizendo isso):
“A Geração Z está buscando um envolvimento mais lento e consciente com as informações. O conteúdo mais longo e de alta qualidade com o qual vale a pena gastar tempo está ganhando espaço com esse grupo, aumentando a popularidade de formatos como blogs e ensaios em vídeo. Até as plataformas de formato curto já estão expandindo as funcionalidades para acomodar conteúdo de formato mais longo” (The Future of Social Media)
“Vem ai uma nova relação com o conteúdo que consumimos tantas horas por dia - menos excessos e mais qualidade”. (Bits To Brands)
Quando olhamos ao redor, pode parecer bem improvável. Afinal, muita gente prefere um vídeo no TikTok à uma newsletter semanal. Mas, como toda tendência, são nos pequenos sinais, nas pesquisas e em um comportamento ou outro que percebemos a mudança chegar.
Não é a primeira vez que a forma como nos relacionamos no digital muda.
Já fomos de "redes” para "mídias” sociais. Enquanto todo mundo especula o que vem depois, algumas pesquisas já começam a apontar para a mesma direção.
Comunidade… isso parece familiar? É que não é a primeira vez que ouvimos essa palavra na internet. As comunidades tiveram um papel importante no amado e inesquecível Orkut (e só quem viveu sabe). Segundo o criador da rede:
Orkut.com era um lugar muito feliz e positivo. (…) Ele aproximou as pessoas em um ambiente seguro em que elas podiam se expressar e ser quem são. Uma grande parte disso eram as comunidades. Dezenas de milhares de comunidades foram criadas por nossa base de usuários, e isso criou um lugar fantástico e seguro para as pessoas se conectarem e se relacionarem. (Entrevista completa)
O futuro tem dessas de se inspirar no passado. Por isso, antes de caminhar pra frente, sempre vale a pena olhar pra trás.
Tem muita gente apostando que essa seja a cara da nova era da socialização na internet: comunidades onde a gente aprende, ensina e troca uns com os outros. Pequenos espaços interessantes nesse ambiente imenso em que passamos tanto tempo.
Se você assina a Teoricamente e reserva uns minutos para ler cada edição com calma, no seu e-mail, sem nenhum algoritmo te empurrando outros mil conteúdos e #publis, talvez você nem tenha percebido, mas já faz parte desse novo momento.
Bem-vindo(a) ao futuro da internet.
Nossa timeline está cada vez mais cheia de gente desconhecida, de criadores de conteúdo e de conteúdo patrocinado. Quem vai ocupar o lugar que as redes sociais tinham antigamente? (Bits to Brands + WGSN)
*
A Geração Z está dando as costas para as redes sociais. Mas o que isso quer dizer? (The Summer Hunter)
*
Os membros da Geração Z foram os primeiros a passar do nascimento a idade adulta, conectados a uma tela. Eles também estão entre os primeiros a dizer que já tiveram o suficiente. (CBS News)
Sabia que dá pra curtir esse texto? É só clicar no coraçãozinho ❤️ no início ou no fim do e-mail.
“A pressão das redes sociais prejudica a auto-estima das nossas meninas. A pandemia deixou tudo ainda pior.” 80% das garotas de 13 anos já distorcem sua aparência online. Pensando nisso, a Dove lançou um movimento para ajudar a construir um novo imaginário de beleza nas redes sociais.
Eles fizeram isso de um jeito poderoso, contando a história real da Mary.
O vídeo é lindo, mas é só uma parte da campanha. Além das peças publicitárias, a Dove se uniu com as organizações Common Sense Media e ParentsTogether Action para promover a Lei de Segurança Online para Crianças, que apoia padrões e ferramentas que protegem as experiências online das crianças e limitam sua exposição ao conteúdo de beleza tóxica.
É o tipo de comunicação com o poder de mudar narrativas.
O vídeo está em inglês, mas dá pra colocar legendas em português pelo Youtube.
O conteúdo é sensível, só assista se se sentir confortável.
🤬 Sabe aquela marca que mudou de logo e você achou simplesmente ridículo? Esse texto vai te explicar o motivo.
🗞 Finalmente, uma notícia legal de verdade sobre inteligência artificial.
🖼 Simplesmente uma treta artística entre Abaporu e Tarsila do Amaral.
Oi, tem alguém aí?
Escrever newsletters é meio solitário, mas os temas da Teoricamente são daqueles bons de conversar em mesa de bar, sabe?
Por isso, criei a SAIDEIRA 🍺, um espaço no chat dos assinantes da Teoricamente onde posto mais links que lembram o tema de cada edição. A parte mais legal é que você pode contribuir com os seus links também :)
É um jeito de continuar o papo até a última cervejinha gelada chegar 🍻 e criar aos poucos uma comunidade pra chamar de nossa. Se você ainda não entrou no chat, é só clicar aqui:
Até quarta que vem,
Le
o que rolou na edição anterior
👩🏼💻 A Teoricamente é escrita por Leticia, profissional de comunicação sempre estudando sobre marca, comportamento e narrativa. Você pode me encontrar no LinkedIn, Instagram e Twitter (com mais frequência do que deveria).
Parar para pensar sobre o futuro refletindo sobre o passado é algo que eu tenho visto as pessoas fazerem de certa forma, acho que não de forma consciente, já que a maioria se guia como "massas e tal", isso me faz pensar em como parte da cultura da geração Z (super estranho falar sobre isso, porque meio que eu sou da geração Z kkkk), se aproveitou da nostalgia dos anos 80 e/ou 90, já que aparentemente, o mundo parecia menos caótico naquela época do que agora nessa pós-pandemia. O hype de Stranger Things e de consumo de coisas dessas épocas gera um escapismo confortante nas pessoas.
Simplesmente incrívelll!! Parabéns