[edição 40 | tempo de leitura: 3 minutos]
trabalhar de casa
viajar todo ano
ter um carro
morar em uma cidade em que você não precisa de carro
ter uma árvore que faz sombra no quintal
ter um quintal
comer a comida da sua mãe todo dia
morar sozinha
se exercitar
(querer) se exercitar
entre os muitos luxos que o mundo moderno pode oferecer, qual você escolheria?
do lado de lá da minha janela, nasce um prédio novo.
e, assim como uma criança chegando no mundo, ele deixa claro que está aqui. grita alto, repetidamente, por horas e horas, todos os dias, semana após semana, durante meses. o dia todo revezando entre o barulho de tijolo quebrando e paredes furando. o dia inteiro… até que a noite chega e, enfim, silêncio.
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silêncio que dura tempo suficiente para perceber quanta falta o silêncio faz.
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segundos depois já dá pra ouvir o motor dos carros passando na rua,
a televisão do vizinho falando alto,
alguém chamando o elevador,
o cachorro da casa da frente conversando com o da casa de trás,
uma notificação que acabou de chegar no celular.
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esse vídeo é um pedacinho de uma exposição (incrível) que tive a chance de visitar enquanto estudava em Barcelona, em julho deste ano. de um jeito bem criativo, ela apresenta a cidade cruzando números como: quantidade de habitantes, linhas de ônibus, posts em redes sociais e tudo o que você imaginar. o cruzamento desses dados rendeu análises muito diversas, entre elas teve essa do vídeo, que categoriza os sons da cidade e sua intensidade por bairro. enquanto ouvia os sons de Barcelona, reparei no quanto eles me lembravam São Paulo, e que, mesmo com um oceano de distância entre as duas, a irritação que o barulho me causava era a mesma.
silêncio que dura pouco.
o mundo parece cada vez mais barulhento, e no meio de tanta buzina, campainha, alarme, motor, zunido e grito, vai ficando difícil se escutar.
"Minha imaginação ganhou vida
quando me distanciei do mundo imediato ao meu redor"
li essa frase, do autor Kazuo Ishiguro, nessa entrevista, um tempo atrás, e não pude deixar de pensar: se o mundo ao nosso redor não sai dos nossos ouvidos, o quão longe vamos precisar fugir para conseguir criar?
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🎞 seria a poluição sonora nossa próxima grande crise de saúde pública? segundo esse vídeo, provavelmente, sim.
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🎞 essa campanha da LEGO ilustra bem nossa busca por silêncio nessas cidades que nunca ficam quietas, e a importância cada vez maior dos momentos de introspecção pelo bem da nossa saúde mental:
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🎧 esse é o tipo de playlist que me ajuda nos dias em que o mundo parece barulhento demais.
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📖 citei o Kazuo Ishiguro no texto de hoje e me senti na obrigação de indicar um livro dele, que já é famoso tem um tempo, mas eu só li esse ano: não me abandone jamais, é aquele tipo de ficção que te prende desde a primeira página. também tem o filme.
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📂 dica: os links compartilhados por aqui ficam salvos e organizados por tema no banco de teorias, o acervo de links da teoricamente :)
👩🏼💻 A Teoricamente é escrita por Leticia, profissional de comunicação sempre estudando sobre futuro, comportamento e narrativa. Você pode me encontrar no LinkedIn, no Instagram e agora no Tiktok também (com mais frequência do que deveria).
Amei! A busca por silêncio tem sido pauta nas sessões de terapia. De repente o movimento intenso da cidade grande não parece tão atrativo quanto uma casinha isolada no meio do mato. :)