Resumir as coisas em uma única palavra é um exercício mais difícil do que parece. Você fica um tempão considerando vários fatores, mas, no fim, é quase como uma escolha irracional.
Sentimos a palavra e colocamos para fora, mesmo sabendo que ela não reflete o todo, mesmo entendendo que uma palavra só é muito pouco para a complexidade das coisas.
Sempre existe um jeito de condensar tudo em uma junção de letras só.
A edição de hoje é mais uma reflexão pessoal do que qualquer outra coisa. Bem no clima de início de ano, quando ainda está liberado rever as metas do ano anterior e pensar no que queremos atingir nos 12 meses que temos pela frente.
Na primeira edição de 2023, vamos revisitar a palavra de 2022 e descobrir onde ela pode nos levar.
ESPERANÇA.
Essa foi a palavra escolhida para representar 2022 em uma pesquisa que ouviu 1.200 brasileiros.
Pode parecer uma escolha clichê, típico de coisa de virada de ano quando a gente só deseja paz, amor e enche o peito dela, a famosa esperança, para recomeçar. Como se a troca do calendário desse um jeito em todo o resto.
Fiquei pensando como um período tão conturbado quanto 2022 poderia dar em uma palavra dessas, mas, no fim das contas, são nos momentos difíceis que mais precisamos esperar por algo.
Também me chamou atenção na pesquisa a palavra que ficou em segundo lugar no ranking e por pouco não ganhou:
DECEPÇÃO.
Em um primeiro momento, vi um abismo imenso entre as duas, mas olhei mais de perto com calma e logo percebi que uma depende da outra.
Nos decepcionamos quando algo que esperamos não dá certo. E logo nos vemos esperando algo de novo, torcendo para não nos decepcionar outra vez.
Apesar de saber que uma única palavra não consegue abrigar todas as nuances de um ano inteiro, eu acho incrível o exercício de abstrair ao máximo as sensações de 365 dias lotados de acontecimentos.
Esperança e decepção. Eu poderia entrar aqui nos porquês dessas duas palavras disputarem o primeiro lugar para representar 2022, em como elas refletem o cenário político polarizado que vivemos e o fato desse país estar claramente rachado ao meio já tem uns anos. Mas, ao invés de analisar lá fora, dessa vez decidi olhar para dentro.
Gastei um tempo pensando em qual seria a palavra do meu ano que passou.
Foi com certeza um dos mais difíceis até aqui. Perdi minha avó enquanto estava longe demais para um abraço conhecido me consolar, mudei de emprego, me senti insegura 50% do tempo e ansiosa no resto, fui desafiada a sair da zona de conforto mais de uma vez, não consegui conciliar vida e saúde mental, me cobrei mais do que deveria… Mas também foi o ano que eu finalmente descobri que o amor pode ser leve, que comecei o exercício de tentar olhar o relógio mais como aliado do que como inimigo, que tomei coragem de criar a Teoricamente e escrever por prazer e que, com muito esforço, voltei meus olhos para dentro de mim.
AUTOCONHECIMENTO.
Tentar me conhecer foi provavelmente o que eu mais fiz no ano passado. Na maioria das vezes contra a minha vontade, olhando para feridas que eu não queria lembrar que tinha. Então, pensando bem, acho que seria justo eleger essa como a minha palavra de 2022.
Se você chegou até aqui, te convido a pensar em uma palavra que resuma seu 2022 também e a se fazer a pergunta que alugou um apartamento com duas suítes na minha cabeça: o que ela diz sobre quem você quer ser em 2023?
teoria para se aprofundar
Todo ano, dicionários do mundo todo elegem as palavras que marcaram o período. Eu acho esse um termômetro dos bons para entender as narrativas que cercam o nosso tempo e também perceber as diferenças e semelhanças das sensações que marcam a sociedade em partes diferentes do mundo.
Aqui estão algumas das minhas preferidas de 2022:
GOBLIN MODE OU "MODO DUENDE” - Dicionário Oxford (Inglaterra)
É um comportamento ou estado de espírito desleixado, preguiçoso, que não se importa com as expectativas sociais e rejeita o estilo de vida das redes sociais.Segundo o dicionário, o Goblin Mode é um reflexo pós-pandêmico. O termo ganhou popularidade quando, após a flexibilização do isolamento social, houve quem optasse por continuar em casa, negando a ideia de “vida normal”.
“O Goblin Mode é como quando você acorda às 2h da manhã, vai na cozinha vestindo nada além de uma camiseta larga e faz um lanche com queijo derretido e salgadinhos”, exemplificou o jornal The Guardian.
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PERMACRISE - Dicionário Collins (Reino Unido)
O termo descreve a sensação de viver em um período prolongado de instabilidade e insegurança e reflete as crises sucessivas na Europa, além da guerra na Ucrânia acontecendo logo ali e impactando diretamente a economia do Reino Unido. Apesar de ser o reflexo de outro continente, a palavra se encaixaria perfeitamente por aqui, já que o brasileiro não tem um dia de paz nesse país.
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GASLIGHTING - Dicionário Merriam-Webster (Estados Unidos)
O termo que teve 1740% de aumento nas buscas online em 2022 não tem uma tradução para o português, mas deriva de “Gas Light”, uma peça de teatro inglesa de 1938, em que um marido faz com a esposa duvide de sua própria sanidade mental para conseguir roubar seu dinheiro.Nas palavras do dicionário, é a prática de enganar e manipular alguém em prol da própria vantagem. Segundo ele, “nessa era de desinformação, fake news e teorias da conspiração, gaslighting surgiu como uma palavra para o nosso tempo.”
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DEMOCRACIA - Dicio (Brasil)
Eleições presidenciais no Brasil, Guerra da Ucrânia e protestos populares no Irã foram alguns dos fatores que fizeram democracia ser a palavra eleita pelo dicionário online brasileiro Dicio. O dicionário também publicou a lista das palavras mais pesquisadas no ano aqui.
case para se inspirar
Seria impossível escrever essa edição sem citar os acontecimentos em Brasília no dia 8 de janeiro.
Apesar da tristeza de fazer parte da geração que assistiu um dos episódios mais vergonhosos da história do país ao vivo (e olha que a lista das vergonhas é longa, ein), é sempre interessante observar como as marcas que conhecemos se posicionam diante de atos como esse.
A estratégia do Mercado Livre foi simples e clara: 99% de desconto na Constituição Federal para que a importância da democracia não seja esquecida.
Enquanto muitos fazem posts em protesto, posicionamentos simplistas demais ou quebram a cabeça para criar algo grande e que, no fim, foge da essência da marca, aqui está um exemplo de ação alinhada ao que a marca faz, dentro do que é possível ser feito e, ainda assim, com uma mensagem clara: respeite a democracia.
Por outros pontos de vista pode até ser visto como oportunismo, mas, sob a ótica da comunicação e da construção de marca, funciona.
links aleatórios que valem o clique
🥹 Essa campanha de fim de ano também se resume a uma só palavra. Provavelmente você já viu, mas é daquelas que vale o replay.
🎶 Essa aqui foi a última que o Spotify inventou (e eu amei). Quando o assunto é interatividade e personalização no streaming eles são mesmo bons no que fazem.
🎞 Uma recomendação de série nova e curtinha da Netflix que tô curtindo muito assistir.
Durante as últimas edições eu me dei conta que terça era um péssimo dia para enviar a Teoricamente. Não porque a taxa de abertura é ruim nem nada disso, mas porque eu simplesmente não sou produtiva (ou criativa) na segunda-feira.
Então, começando hoje, espere uma edição nova toda quarta de manhã por aí (:
E já que estamos aqui, adoraria saber o que você tem achado da news. Um jeito fácil de me dizer é clicando no coraçãozinho de like no início ou no rodapé do e-mail ❤️
Até quarta que vem!
Le
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