Como vamos explicar para os nossos pais que quase tudo o que eles nos ensinaram sobre trabalho já não é mais verdade?
Um novo jeito de encarar o mundo corporativo está nascendo e ele provavelmente vai mudar a narrativa do que nós entendemos por trabalho até hoje.
Quando minha mãe fez 15 anos ganhou de presente do meu avô uma carteira de trabalho.
Eu já perdi as contas de quantas vezes ela me contou essa história.
Ao contrário do que possa parecer, ganhar isso não foi um castigo, longe disso, foi realmente um presente.
É que tudo o que a minha mãe aprendeu sobre trabalho foi vendo seu pai e suas irmãs mais velhas trabalharem. Aos 15 anos ela já sabia que trabalhar era cansativo, mas também tinha certeza que era o único caminho.
Em uma família de sete filhos, com um pai que migrou do sertão da Bahia até a roça paranaense e terminou sua jornada em São Paulo, em busca de um futuro com mais chances para os filhos, minha mãe cresceu sabendo que a dignidade é fruto do trabalho e foram esses ensinamentos que nortearam toda a carreira dela.
Quase 45 anos depois de receber o presente que a colocaria de vez na vida adulta, o sentimento segue o mesmo.
Ao sair do meu quarto de manhã e ir buscar um copo d’água, no caminho para a cozinha vejo minha mãe com o notebook ligado, a testa franzida, os dedos digitado… extremamente concentrada.
Ela, hoje com 59 anos, aposentada, com uma vida estável e na medida do possível confortável, depois de ter conquistado (segundo ela mesma) coisas que ela nunca teria imaginado conseguir quando era uma menina, continua se doando para o trabalho de um jeito que muitas vezes é difícil fazer sentido para mim.
Eu digo: “mãe, toma seu café. Acorda com calma, fica tranquila que ninguém vai morrer se você demorar 30 minutos a mais pra responder esse e-mail.”
Ela concorda, fala que está mesmo cansada. Conversa comigo por 10 minutos enquanto morde uma fatia de pão e logo volta a atenção pro e-mail outra vez.
Ao mesmo tempo, eu, com 25 anos, me sinto perdida nessa história toda de vestir a camisa da empresa a todo custo, e luto para equilibrar prazer, propósito e sucesso profissional sem abrir mão da minha saúde física e mental.
Eu também cresci com o exemplo do meu pai
Posso dizer com certeza que em 20 anos nunca o vi se atrasar para um dia de serviço, nem reclamar de estar cansado ou falar mal da empresa. Meu pai, que por quase duas décadas executa a mesma função com excelência na mesma organização e já escapou de vários cortes de funcionários, até hoje diz que “o trabalho é a dignidade do homem.”
Mas, diferente da minha mãe que ainda carrega os mesmos valores do meu avô, enquanto eu avanço em minha carreira percebo que todas as minhas convicções sobre o que é trabalho, o que busco nele e qual a parcela que ele ocupa na minha vida mudam radicalmente dia após dia.
É um fato: o trabalho já não é para mim o que foi para os meus pais.
E essa descoberta não parece ser só minha.
Esses dias, conversando com uma amiga, falávamos como estamos aos poucos desconstruindo a ideia de sucesso, que parece estar cada vez mais longe de depender da nossa profissão. Para mim, essa mudança despertou na pandemia, quando minha saúde mental vacilou muitas vezes e me fez repensar tudo a respeito de como organizamos essa vida pequena que temos para viver.
O que me parece é que eu e a geração a qual eu pertenço, a chamada "Geração Z”, também conhecidos como os nascidos entre 1995 e 2010, crescemos vendo a geração anterior trabalhar muito e conquistar bem pouco, e não estamos dispostos a sacrificar tanto pelo mesmo.
Já dá pra ver que começamos a nos organizar profissionalmente de um jeito diferente do tradicional, mais flexibilidade, menos plano de carreira, mais empresas no currículo, menos tempo de casa.
Mas vale lembrar que essa mudança de comportamento que se inicia agora ainda esbarra no fato de sermos contratados e avaliados pela geração anterior. Daí a dificuldade de fazer com que esses novos valores não soem apenas como uma desculpa para trabalhar menos, mas sim como o entendimento de que estamos em um novo tempo, com novas prioridades, e que, apesar do trabalho ainda ser extremamente importante, ele já não é mais o protagonista na vida dessa geração.
Como isso vai impactar as empresas e como elas podem se antecipar?
Essa parece ser a pergunta do momento. Cada vez mais, posts com esse tema pipocam no LinkedIn e, como tudo o que é novo, gera assunto e muitas hipóteses. O fato é que, a medida que a Geração Z vai adentrando o mercado, esses questionamentos só tendem a aumentar.
Essa história toda me faz pensar: será que em cinco anos a ideia de trabalho como nossos pais conheceram será 100% substituída por essa nova narrativa que está começando a ser escrita?
Em 2027 a gente descobre.
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📄 Afinal, o que os jovens pensam sobre trabalho?
Esse relatório mostra que o jovem latino-americano está focado em si mesmo. 42% deles acreditam que o individualismo é uma das principais características da geração e para 83% a maior preocupação é conseguir estabilidade por meio da independência financeira.Ao ler o estudo, esses dois pontos são os que mais parecem "justificar” o posicionamento dos Z's com o mercado de trabalho hoje:
OBSOLESCÊNCIA: entender que tudo muda muito rápido: opiniões, tendências, valores, reputação e por isso é preciso estar preparado para viver em constante mudança.
REPUTAÇÃO: crescer em um mundo em que o maior ativo de uma pessoa é sua própria imagem. O jovem Z busca meios de se emancipar se transformando no CEO de si mesmo.
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📄 Novos tempos, novas configurações de trabalho
Com a chegada do home office tem muita gente apostando em empreender* ao mesmo tempo que me mantêm um trabalho formal. A grande mudança não está em ter dois empregos, isso existe faz tempo, mas sim no motivo: não tem a ver só com uma fonte de renda extra, mas em trabalhar com algo que realmente gosta e dá prazer, além de poder ser seu próprio chefe.
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📄 Todo dia a Geração Z inventa uma palavra nova
O quiet quitting* (ou, desistência silenciosa) nasceu no Tik Tok e já deu o que falar no LinkedIn. Nem deu tempo de entender o que era e já apareceu um termo novo, o resenteeism* (ou, ressentimento). Os dois refletem bem como essa geração enxerga o mundo do trabalho: frustante e desmotivador. (Nada que os millenials não tenham percebido, eles só fingiram não ver e continuaram acreditando na lenda do mundo corporativo mesmo estando exaustos).
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📂 dica: os links compartilhados por aqui ficam salvos e organizados por tema no banco de teorias, o acervo de links da teoricamente :)
A inspiração de hoje é uma frase da poeta norte americana Mary Oliver que soou quase como uma provocação quando li e foi um ponto de partida para repensar o que significa sucesso para mim:
“Diga-me o que planeja fazer com a sua vida única, fantástica e poderosa”
Se temos tão pouco tempo e o trabalho já consome grande parte de tudo, dentro do que é possível, e entendendo que cada realidade tem suas próprias barreiras, qual relação queremos (e podemos) ter com o trabalho daqui pra frente?
🕺 Dancinhas do Tik Tok são pré requisito em todas as vagas de emprego e esse vídeo pode provar.
💬 Se você quiser mesmo entender como o jovem tá de saco cheio do mundo corporativo é só ler os comentários desse grupo.
📚 Essa foi a minha primeira leitura de 2023 e ela me fez recalcular a rota da minha vida. Se você também sente que não tem tempo para o que importa, recomendo fortemente a leitura.
🤯 Estou 100% viciada nesse podcast. Não conheço ninguém que esteja escutando para comentar, se você for essa pessoa, por favor responda esse e-mail!!!
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Oi!
Não sei se você notou, mas as últimas edições estão um pouco mais pessoais. Eu senti que faltava trazer um pouco mais do meu ponto de vista pro texto e é o que tenho tentado fazer. Dá um pouco de medo, mas acho que a troca fica bem mais bonita quando feita assim. Você gostou?
Ah, uma notícia legal: já somos +100 por aqui. Pode parecer um número bem bobo nessa era de redes sociais onde as contas tem 1 milhão de seguidores, mas para uma newsletter de assinatura semanal já é um número e tanto. Obrigada por fazer parte disso 🥰
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Te espero quarta que vem!
Le