[tempo de leitura: 4 minutos]
um dia, folheando minha apostila de ciências, me deparei com a clássica imagem do sistema solar que mostra um planeta ao lado do outro, do mais próximo ao mais distante do sol.
minha cabeça, desde cedo obcecada pela ordem, se encantou com aquela fileira milimetricamente organizada, os planetas distribuídos lado a lado.
perfeito.
levou um tempo até eu descobrir que não era bem assim.
como estamos cansados de saber, cada planeta fica, na verdade, rodando em torno do sol, rodopiando de acordo com seu próprio ritmo e calendário. cada um seguindo sua rota, sem atropelar o outro.
essa descoberta acabou com a ideia ingênua e perfeccionista que eu criei do sistema solar.
“o universo é, na verdade, uma grande bagunça.”
foi o que eu pensei com 10 anos e é o que continuo achando.
de vez em quando, algumas perguntas aparecem na minha mente de um jeito tão avassalador que chega a me desequilibrar.
uns dias atrás, me perguntei sem querer:
se minha vida fosse um sistema solar, qual seria o meu sol?
e, depois disso, uma enxurrada de perguntas sem resposta se seguiram:
o que está hoje no centro da minha vida?
em volta do que eu sigo girando?
qual é o eixo que faz com que todos os meus planetas continuem seguindo suas rotas sem nunca colidir?
por um tempo, os meus sonhos foram meu sol.
o sonho de ter uma carreira de sucesso, o sonho de morar sozinha, o sonho de conhecer outros países.
todos eles se revezavam nesse espaço, enquanto as outras áreas da minha vida giravam em torno.
muitas vezes, o planeta do trabalho saía em disparada, fazendo todos os outros (inclusive o da saúde) andarem lentos, em segundo plano.
por um tempo, os meus medos foram meu sol.
e nesse período foi só sofrimento. tudo rodava em volta das coisas que eu não queria perder, dos lugares que eu não conseguia ir, das pessoas que eu não me permitia conhecer.
quando os medos ocupavam esse espaço muitos planetas paravam por completo, simplesmente sem forças para sair do lugar.
por um tempo, os meus relacionamentos amorosos foram meu sol.
toda a minha vida concentrada em outro alguém, ou na espera de um alguém. meus planetas seguiam um ritmo que não era o meu, em rotas que eu sequer gostava, seguindo só por seguir.
por um tempo, minha imagem foi o meu sol.
a necessidade de me provar perfeita, a autocobrança para ser tudo aquilo que esperavam que eu fosse por dentro e por fora, e, mais do que isso, tudo o que eu pensava que esperavam que eu me tornasse. enquanto isso, todos os planetas giravam com cautela máxima, evitando se desviar alguns milímetros da rota por medo de decepcionar quem me assistia viver.
“de que é feita a vida, afinal, se não exatamente disso, de períodos de tempo, alguns longos, outros curtos, todos finitos, épocas bem marcadas que formam nossa pequena história na terra, com suas diferentes camadas, ontem aquilo, hoje isso, amanhã, quem sabe?”
- maria josé silveira, no livro “a mãe da mãe de sua mãe e suas filhas”
ainda não tenho a resposta de qual sol deveria reger todos os outros planetas, mas me conforta pensar que, com o tempo, descobri com certeza o que não é sol:
minhas inseguranças,
os dias ruins,
os traumas passados e
todos os medos.
tenho gostado cada vez mais da ideia de que, talvez (e só talvez), essa luz que faz tudo girar em volta, em seu próprio rumo, sem nunca colidir, seja a vontade de me tornar, enfim, quem eu sou.
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_livro 📖
"mas não era uma tristeza, era exatamente uma saudade de ter sofrido o que sofrera, o necessário para lhe ensinar a usufruir mais tarde, agora, a felicidade. achava ele que se devia nutrir carinho por um sofrimento sobre o qual se soube construir a felicidade”.
trecho de “o filho de mil homens”, que fala sobre tornar-se quem se é de um jeito tão bonito que é tipo poesia pura - e também é um dos meus livros preferidos.
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_dica 📂
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👩🏼💻 A Teoricamente é escrita por Leticia, profissional de comunicação sempre estudando sobre futuro, comportamento e narrativa. Você pode me encontrar no LinkedIn, no Instagram e agora no Tiktok também (com mais frequência do que deveria).
Que reflexão impecável!
Amei