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em 2021 decidi passar um ano estudando a evolução dos termos que usamos para falar sobre as mudanças climáticas e, como era de se esperar, percebi que percorremos um longo caminho desde “aquecimento global” até “emergência climática".
quando apresentei o estudo (que virou meu TCC), um novo termo já estava surgindo: racismo climático.
ali eu já suspeitava que, de lá pra cá, mais termos apareceriam no dicionário do clima. hoje, três anos depois, são tantos que perdi a conta.
a edição de hoje é um pouco sobre palavras, um pouco sobre calor, um pouco sobre marcas e um pouco sobre tiktok. uma mistura apocalíptica diretamente da minha mente ansiosa, escrita durante as semanas mais quentes que os paulistanos já viram.
beijos, le :)
um texto ✍🏼
barulho de ventilador, janelas bem abertas, suor escorrendo na testa, disputa por ar condicionado, ônibus abafado.
seja no uber, no elevador, na recepção do consultório médico, nas reuniões online ou no jantar em família, o calor é o quebra-gelo favorito de qualquer conversa.
é que, apesar de já ser outono, ainda parece verão em são paulo, e, por aqui, não se fala em outra coisa.
nascida nessa cidade grande, não foi com os olhos que percebi a mudança. crescer no meio da selva de pedra não me permitiu ver a natureza se afastando cada vez mais da humanidade, mas nem por isso deixei de sentir a transformação no corpo. por mais que eu tente esquecer, as noites mal dormidas, a pressão baixa e o suor constante me lembram da ameaça de um futuro ainda mais quente.
em meio a todos os avanços tecnológicos que cabem em telas de computador e prometem nos transportar para uma realidade ainda mais longe da real, existe algum dispositivo que nos salve de um futuro inabitável?
enquanto o mundo segue, ora negando, ora citando o clima por engajamento, a lista de palavras no dicionário da crise climática só aumenta.
emergência, ansiedade, caos, racismo, sostalgia e simbioceno são alguns dos termos que chegaram para dar nome aos sentimentos e fenômenos sociais que ainda não sabemos muito bem como explicar.
no meio de tantos outros assuntos urgentes, o futuro do clima continua aparecendo e sumindo das manchetes, à depender da temperatura nos termômetros e dos desastres ambientais (que de naturais não têm nada).
competindo com as milhares de trends que nascem e morrem todos os dias e as preferências esquizofrênicas do algoritmo, resta saber: quantos likes a crise climática merece?
duas citações 💬
“a preocupação com o clima tem conhecido pequenos picos e pequenos vales, mas em nenhum momento deu um salto.” [livro]
“o problema com a espécie humana é que, como disse william james, “o homem nunca tem o bastante sem ter em demasia.” [livro]
três links 🔗
😥
nos últimos cinco anos, os brasileiros buscaram 73 vezes mais por "ansiedade climática" no google. esse não é o único termo novo no vocabulário da crise climática, e existe um porquê de dar nome às coisas: "quando a definição existe, as pessoas começam a perceber que compartilham a mesma angústia e tristeza pelo que está acontecendo. e podem perceber que a causa é a mesma." [link]
🫠
a crise climática engaja? “houve uma crescente de marcas abordando as temáticas sustentáveis nos últimos anos, e mais do que isso, observamos também algumas práticas importantes, com produtos e coleções de baixo impacto (…) a grande questão é a intencionalidade por trás de tudo isso”. [link]
📲
tiktokers são especialistas em criar termos para situações quem nem sempre precisam de nome. em um mundo com tanta informação, quanto espaço mental estamos dispostos a ocupar com isso? “[esses termos] são canalizados para a consciência coletiva não porque sejam relevantes ou necessários, mas porque pessoas aleatórias fizeram vídeos na esperança de que ele se tornasse viral”. [link]