[tempo de leitura: 6 minutos]
seguidores, curtidas, compartilhamentos, alcance… seriam os números os culpados por matar a criatividade?
vale tudo para fazer o conteúdo chegar mais longe: vídeos com o mesmo áudio, posts com as mesmas frases, fotos nos mesmos pontos turísticos.
mas… porque mesmo é que estamos fazendo isso?
a edição de hoje é um chamado, mas, acima de tudo, o desabafo de uma mente que cria em um mundo que não valoriza a criação.
espero que goste. e, se gostar, me conta?
beijos, le :)
um texto ✍🏼
arte.
o dicionário tem 25 explicações diferentes para este termo, e nenhum deles menciona alcance, curtidas ou engajamento.
ao que parece, internet não é lugar de arte.
mas, convenhamos, já tem algum tempo que a arte foi engolida pelo entretenimento.
enquanto a arte tem como essência refletir, sentir e questionar, o objetivo do entretenimento é fazer o tempo passar.
mas mesmo o entretenimento tem perdido espaço em nossas vidas corridas e cansativas.
o tempo que antes passávamos assistindo um filme, hoje gastamos rolando o feed incansavelmente, em busca de pequenas doses de conteúdo que nos distraia.
pouco a pouco, o entretenimento está sendo engolido pela distração.
a distração é viciante. nunca temos o suficiente dela.
quanto mais monótonas nossas vidas, mais ela nos consola.
cada vídeo que merece uma curtida serve de estímulo para buscar um outro ainda melhor. e depois outro, e depois outro. e, com tanto conteúdo no mundo e uma tela que rola para baixo sem nunca chegar ao fim, fica cada vez mais difícil bloquear o celular e voltar para qualquer tarefa que requer atenção no mundo real.
esse é o efeito das redes. e ele foi criado para ser exatamente assim.
são sistemas aparentemente simples, que programam nosso cérebro para recompensar pequenas explosões de distração.
existe uma explicação científica para não conseguirmos assistir apenas um vídeo e sair do aplicativo em seguida: eles são criados para nos manter por lá.
é um ciclo de estímulo e recompensa. o corpo pede uma dose e depois que recebe se sente bem, até que a pede novamente.
parece familiar?
essa é a base de todo vício.
e, ao que parece, o vício será o próximo elemento na cadeia alimentar da internet. em breve, o vício engolirá a distração.
o que aconteceu com todos os criadores injustiçados nesse jogo de poder? me recuso a pensar que estou sozinha.
eu escrevo pelas palavras e não pelos números,
escrevo para me conectar e não para influenciar.
e, por isso, sei com toda a certeza que não me encaixo no algoritmo das redes.
então, criei esse canal, quase como uma brecha no sistema, que só chega a quem se interessar.
isso significa que levará mais tempo para alcançar mais leitores. isso significa que eu provavelmente precisarei de anos para conquistar uma audiência significativa. isso significa que eu talvez não consiga ser reconhecida pelos meus textos… pelo menos não com a facilidade de outros tipos de criadores.
mas esse é o preço que se paga por preservar a sua arte.
e, portanto, é um preço que estou disposta a pagar.
artista,
crie seu próprio espaço, hackeie o sistema como for preciso, mas em hipótese alguma desista da sua arte. ela é importante para o mundo. principalmente em um mundo que não vê na arte importância alguma.
não deixe que os números sufoquem sua criatividade. resista.
duasuma citação 💬
“você acha que david bowie diria: ‘meu objetivo como artista é maximizar o tempo que as pessoas passam consumindo meu trabalho’? eu não sei o que o bowie queria… mas eu sei o que eu quero como artista, como uma pessoa criativa: eu quero dizer algo que importe para outro alguém. eu quero dizer algo que apenas eu poderia dizer por causa da minha experiência de vida única e quero que alguém que eu nem conheço seja capaz de se conectar com aquilo."
a fala completa continua no vídeo (e vale muito a pena assistir) ⤵️
três links 🔗
📝
em algum momento a humanidade valorizou a arte, mas isso ficou para trás. a arte foi engolida pelo entretenimento, que foi engolido pela distração e que (ao que tudo parece) será engolido pelo vício. a edição de hoje foi uma reflexão que nasceu de outra reflexão incrível, da mente brilhante do escritor ted gioa. [link]
🎨
às vezes a arte é apenas algo que te faz parar e pensar. e, quer você ame ou odeie, é difícil descartar aquilo como se não tivesse valor algum. [link]
🤔
e se você pudesse escolher “ativar” ou não o algoritmo? parece em outra vida, mas eu lembro de quando o instagram era exatamente assim: um feed em ordem cronológica com as fotos dos meus amigos. e só. [link]
amo quando Bowie é mencionado como referência de arte. falei sobre ele em algumas sessões recentes da terapia… acho mesmo que, enquanto artistas inseridas nesse universo em que os exaustos se distraem, pode ser interessante nos perguntar, vez ou outra, “o que o Bowie diria/faria/pensaria....” só pra retomar o prumo.