eu não quero falar sobre inteligência artificial
qual a última coisa que te fez esquecer como era a vida antes dela?
[edição 17 | tempo de leitura: 7 minutos]
Algumas tecnologias mudam a forma como enxergamos o mundo e, depois de inseridas em nossas vidas, é quase impossível lembrar como vivemos tanto tempo sem… E se a naturalidade com que nos são apresentadas for o grande diferencial entre aquelas que chegam para ficar e as que só estão de passagem? Afinal, qual foi a última coisa que te fez esquecer como era a vida antes dela?
Quando eu tinha uns 12 anos ganhei meu primeiro celular. Consegui ele trocando cupons em uma promoção de jornal que participei com o meu pai. Era dos mais simples, sem jogo da cobrinha nem nada, mas eu achei o máximo.
Acontece que os celulares evoluíram muito rápido e em pouco tempo meus amigos já exibiam seus modelos novos com um grande diferencial: armazenar música.
Eu também queria ouvir música no celular, então criei uma técnica: toda noite, enquanto assistia religiosamente os videoclipes da MTV, escolhia um para gravar. Eu ficava ali, por três minutos com o microfone do celular grudado na TV, respirando baixinho pra não estragar a gravação.
Depois passava a semana toda ouvindo aquela mesma música até decorar a letra.
Na semana seguinte, tudo outra vez.
Até hoje, quando abro o Spotify, digito o nome da música e a escuto em questão de segundos, a criança que mora em mim pensa que aquilo não pode ser outra coisa se não pura magia.
A internet (e toda a evolução tecnológica impressionantemente rápida que veio depois dela) fez tudo parecer mágica.
O jeito como escutamos música,
como nos comunicamos,
como compramos,
como trabalhamos,
como conhecemos novas pessoas,
como estudamos,
como nos locomovemos de um lugar para o outro…
A lista pode ser muito maior que essa e, se feita com atenção, tocar em todos os cantos da vida.
Olhando daqui, enxergo as redes sociais como a última grande revolução que a internet nos trouxe. Isso porque ela mudou radicalmente o jeito como nos apresentamos para a sociedade e como nos relacionamos uns com os outros, não só como pessoas mas também como marcas.
Mas essa observação tem um prazo de validade bem curto.
A cada nova notícia já dá pra perceber qual é a grande tecnologia da vez: as ferramentas de inteligência artificial (ou IA, para os íntimos).
Desde que algumas delas se popularizaram (como ChatGPT e Dall-e) não se fala em outra coisa. E eu juro que eu não queria ser mais uma pessoa falando sobre isso, mas ficou difícil escapar do assunto.
Porém, enquanto tanta gente discute se a IA vai roubar nossos empregos e quais são suas implicações éticas, tem uma parte não tão explorada sobre o uso das novidades tecnológicas.
Você não acha curioso a naturalidade com que algumas tecnologias ganham espaço no nosso cotidiano a ponto de mudar radicalmente o jeito como entendíamos o mundo até então?
Uma delas nos incentivou a fazer o que nossos pais sempre nos proibiram: pegar carona no carro de estranhos. Menos de uma década depois, aqui estamos nós, sem conseguir fugir dessa opção tão simples que é chamar um carro com alguns cliques no celular.
Outra mudou a forma como consumiamos filmes, séries e músicas. Adeus idas à locadora, adeus porta-CDs, adeus esperar um horário específico na programação de TV pra assistir aquele episódio que eu passei a semana esperando.
E uma até provou que, no fim das contas, não precisamos tanto assim de dinheiro vivo como imaginávamos e que o celular pode sim substituir uma agência de banco física.
O que todas essas tecnologias tem em comum é a forma gradual e natural como se encaixaram nas nossas vidas.
Todas elas se apresentaram como soluções para o dia a dia. Com elas eu posso: chegar ao trabalho a tempo em um dia que acordei atrasada e perdi o ônibus, assistir um filme novo sem ter que ir até o cinema, solicitar um cartão de crédito sem precisar pegar fila.
Elas resolvem tantos problemas óbvios que depois de usá-las é comum pensar: “como vivi sem isso até hoje?”
E é assim que a inteligência artificial também chega até nossas vidas:
É fascinante, mas (diferente do Metaverso) é aplicável no dia a dia.
É complexo de entender, mas é fácil de usar.
É assustador, mas é muito conveniente.
Ameaça o mundo como conhecemos hoje, mas abre espaço para um mundo novo que estamos curiosos para conhecer.
Ela chega com a promessa de que em pouco tempo vai ser difícil lembrar como era a vida antes dela e nos ajudar a construir uma nova narrativa sobre um mundo que a inteligência artificial é útil e acessível.
Hoje, com tudo ainda começando, pode parecer um discurso meio doido, mas isso já aconteceu antes. Na verdade, isso acontece o tempo todo, sempre que uma nova tecnologia, poderosa o bastante para se incorporar em nossas vidas, reconstrói nossos hábitos e nossa forma de pensar sobre determinado assunto.
As tecnologias que chegam para ficar e revolucionar, por mais diferentes que sejam, trazem sempre algo em comum: em pouco tempo nos fazem esquecer como era a vida antes delas.
No meio de tantas opiniões, estudos e achismos, cabe ao tempo confirmar se a inteligência artificial é uma delas. Se depender da rapidez com que o mundo tem mudado, não vamos demorar muito pra descobrir.
teoria para se aprofundar
“Estamos à beira de uma mudança radical e profunda, com impacto direto nos rumos da humanidade (…) “E se a internet estiver se transformando em algo diferente? E se nós não estivermos vendo o futuro?” Amy Webb, durante o maior festival de inovação do mundo (Metrópoles)
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“A inteligência artificial é o projeto mais esperançoso e assustador da história humana.” Greg Brockman, co-fundador e presidente da OpenAI (que criou o famoso ChatGPT) (B9)
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“As inteligências artificiais generativas parecem mágica. Elas impressionam, encantam, fazem com que a gente se sinta no futuro, que a gente queira mostrar que está por dentro do novo.” Beatriz Guarezi, no (imperdível) relatório de tendências para 2023 em parceria com a WGSN (Bits to Brands)
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“Mais do que uma ideia revolucionária, para uma nova tecnologia emplacar ela precisa ser acessível a uma grande parcela de consumidores. Apesar de o conceito de Metaverso ser bem inovador, os dispositivos necessários para garantir uma adoção em massa ainda são muito caros.” Sobre a Disney ter desistido do Metaverso (Tecmundo)
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para se inspirar
As fotos do Papa nessa jaquetona enganou muita gente e fez todo mundo questionar se temos maturidade (e responsabilidade) para uma tecnologia capaz de criar imagens tão realistas. "Assim como no passado tivemos uma curva de aprendizado para lidar com redes sociais (…) agora passaremos por uma nova curva de aprendizado. Não aprendemos ainda a lidar com textos falsos, agora teremos que aprender a lidar com imagens, vídeos e áudios falsos.” (Forbes)
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Sem se prender muito às probabilidades e soltando a imaginação com base em tudo o que tem sido dito sobre IA, essa é uma reflexão sincera com 13 previsões sobre o impacto de inteligências artificiais no nosso trabalho e na nossa vida. (Diego Schutt)
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links que valem o clique
🎤 Esse episódio do podcast “É Nóia Minha?” sobre o ano de 2010 me desbloqueou muitas memórias engraçadas. Na era de Crepúsculo, Restart e paleta mexicana eu era feliz e sabia.
💄 Falei nessa edição sobre a péssima relação que eu desenvolvi com a beleza ao longo dos anos. Agora tô tentando simplificar ao máximo os processos de beleza e cuidados com a pele para 1. parar de enxergar isso como castigo e 2. economizar tempo e dinheiro. Pra isso, comprei um kit na BEYOUNG esses dias. Ele facilitou muito minha vida e, como dica boa é dica compartilhada, aqui vai um cupom de 25% de desconto se você quiser experimentar: TEORICAMENTE
🤨 Reflexão necessária pra fechar a edição de hoje:
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Oi!
Esse negócio de inteligência artificial ainda vai dar o que falar. Tenho certeza que essa não será a única edição sobre o assunto, mas prometo sempre trazer reflexões diferentes sobre o tema (até porque eu não aguento mais ler os mesmos conteúdos).
Viu alguma coisa interessante e diferente sobre isso na internet? Me manda, por favor? Vou adorar ler! Pra falar comigo é só responder esse e-mail ou deixar um comentário.Até quarta que vem :)
Le
o que rolou na edição anterior
👩🏼💻 A Teoricamente é escrita por Leticia, profissional de comunicação sempre estudando sobre marca, comportamento e narrativa. Você pode me encontrar no LinkedIn, Instagram e Twitter (com mais frequência do que deveria).