[edição 30 | tempo de leitura: 3 minutos]
“ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”.
- heráclito de éfeso
entre o acontecimento e sua lembrança existe o luto da memória
é assim que eu chamo o período de tempo que levo para aceitar que coisas incríveis aconteceram em um piscar de olhos e que agora, no presente, elas já são passado.
e mesmo que na minha teimosia eu insista em voltar para os mesmos lugares e revivê-los com o mesmo roteiro, nunca será igual.
é como viajar para o mesmo destino pela segunda vez e perceber que aquele ponto turístico já não impressiona na mesma medida.
é como assistir um filme repetido e não se surpreender com o plot twist.
é como um casamento de muitos anos em que acordar com a mesma pessoa ao lado se torna um hábito rotineiro.
apesar de parecer triste aceitar que as segundas vezes não são como as primeiras, me conforta saber que sempre existirá um canto novo na cidade para explorar, uma fala no filme que passou despercebida, um momento com a pessoa amada que não foi vivido antes, e que todas as coisas perceptíveis nas segundas, terceiras e quartas vezes, só serão percebidas porque um dia as vi pela primeira vez.
de primeira, reparo no óbvio.
e é só depois que me atento ao que faz daquele lugar, daquele filme, daquela pessoa algo extraordinário: os pequenos detalhes.
sigo no luto de saber que nunca mais verei esse rio imenso pela primeira vez, mas me pego pensando em quais detalhes me chamarão atenção no nosso próximo encontro.
até lá, minha única certeza é que as águas do rio não serão as mesmas.
assim como eu.
e ainda bem.
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📹 adultos andam, crianças exploram. as crianças têm a sorte de ver o mundo pela primeira vez e por isso se surpreendem e se maravilham de um jeito que nós, adultos, por vezes esquecemos ser possível.