[tempo de leitura: 7 minutos]
uma edição para se despedir de vez das olimpíadas enquanto aguardo ansiosamente pela próxima.
hoje tem de tudo: memórias, análises, vídeos legais e links para mergulhar no assunto.
espero que você goste dessa conversa.
até quarta que vem, le :)
o ano era 2008 e a aula de educação física estava prestes a começar.
para a infelicidade de muitos, o professor preparou um roteiro diferente: ao invés de uma bola de futebol, trazia nas mãos uma televisão.
ele caminhou pela sala e, pacientemente, conectou o aparelho antigo na tomada e aumentou o volume.
enquanto metade dos alunos conversavam e a outra parte aproveitava para tirar um cochilo, eu permaneci em absoluto silêncio.
meus olhos vidrados na tela, minha boca levemente aberta em sinal de espanto. a cada minuto uma nova surpresa.
- aquela era, possivelmente, a coisa mais incrível que eu já tinha visto.
é assim que me lembro até hoje da abertura das olimpíadas de pequim.
os fogos de artifício, a sincronia, os figurinos, as danças, as delegações, a tocha passando de mão em mão.
eu tinha apenas 11 anos de idade mas já conseguia sentir que esse era o início de uma história de amor que renasceria a cada quatro anos.
existe uma grandiosidade nos jogos olímpicos que os separam de qualquer outra competição.
por cerca de duas semanas, os melhores atletas do mundo representam seus países e fazem coisas que nem super-heróis conseguiriam imitar.
o resultado poderia ser uma mistura de ego inflado, arrogância, competitividade, e um show de preconceito e xenofobia entre equipes e torcidas.
mas, incrivelmente, não é.
não sou ingênua de achar que atos desse tipo não existam, infelizmente, atitudes ruins estão por toda parte. mas elas não dominam essa competição.
e eu ouso arriscar dizer que sei porque isso acontece.
esse evento tem um guardião poderoso: o espírito olímpico.
uma combinação de ideais que vive desde os jogos antigos, e que o comitê olímpico define como:
“uma filosofia de vida que exalta corpo, mente e vontade. combinando esporte, cultura e educação. o olimpismo cria um modo de vida baseado na alegria encontrada no esforço, no valor educativo do bom exemplo e no respeito pelos princípios éticos fundamentais universais1.”
como bem disse fernanda gentil:
“a gente sabe que o espírito olímpico existe pelo o que a gente sente quando vê o espírito olímpico existindo.”
mas tem ainda outra parte importante desse evento que o torna único: as olimpíadas não acabam quando terminam.
a ideia de legado foi introduzida nas orientações olímpicas em 2003. desde lá, as definições foram se adaptando até chegar na que se utiliza hoje, onde o legado olímpico é definido como:
“todos os benefícios tangíveis e intangíveis de longo prazo para as pessoas, cidades e territórios, iniciados ou acelerados pela hospedagem dos jogos olímpicos2".
o legado é pensado desde o início do processo, quando o país candidata uma cidade-sede, e continua sendo avaliado anos depois pelo comitê olímpico internacional.
”para o rio de janeiro, os jogos foram o início de um futuro renovado. embora tenha levado alguns anos para que os planos se concretizassem, os jogos trouxeram benefícios tangíveis, que ajudaram a transformar a cidade e a melhorar a vida dos seus cidadãos.”
contou tania braga, diretora de impacto e legado do comitê olímpico internacional, no estudo de caso publicado na semana passada, oito anos depois do evento.
e, por falar em legado, se tem algo que essa competição entende mesmo é como fazer história.
quase 3 mil anos separam a primeira olimpíada da antiguidade, criada na grécia antiga, no alto do monte olímpo3, da edição que acompanhamos hoje pela internet.
de lá pra cá, quantos esportes entraram e saíram do cronograma de jogos? quantos atletas nasceram e morreram? quantas regras foram criadas e abolidas? quantos recordes foram batidos? quantas lendas do esporte fizeram história? quantos aparelhos de televisão saíram de linha?
no meio de todas as mudanças que quase três milênios são capazes de oferecer, a olimpíada renasceu.
a cada quatro anos temos a chance de celebrar um evento que atravessou gerações, e continua se reiventando em um mundo muito diferente daquele em que foi criado.
um mundo onde conquistar a atenção das pessoas é um desafio cada vez mais complexo.
por aqui, mesmo com a agenda cheia de reuniões, lista de tarefas pendentes e notificações no celular, me permito encontrar tempo para assistir rebeca andrade realizar um salto, marta fazer um gol, beatriz souza começar uma luta, gabriel medina encarar uma onda, rayssa leal tentar uma manobra.
me perco na programação dos jogos. passo uma tarde inteira assistindo o atletismo, a ginástica, o basquete... pesquiso o nome dos atletas, me emociono com as suas histórias. assisto qualquer disputa torcendo com entusiamo.
sigo me maravilhando com cada nova medalha, na espera angustiante de, quem sabe, ouvir o hino brasileiro tocar e assistir um atleta se emocionar enquanto a bandeira verde e amarela sobe.
e então, a mágica acontece.
de repente, percebo meus olhos vidrados na tela, minha boca levemente aberta em sinal de espanto. a cada minuto uma nova surpresa:
- “essa é, possivelmente, a coisa mais incrível que eu já vi”.
já não sou mais eu, mas a leticia de 11 anos que assume o lugar no sofá.
e a única certeza que tenho é que daqui quatro anos vou ter a chance de viver tudo isso mais uma vez.
📺
menos pessoas estão assistindo os jogos olímpicos?
as redes sociais criaram um novo jeito de acompanhar as olimpíadas. se antes assistíamos tudo pela televisão, hoje sabemos que segundos após o lance ele será publicado (muitas e muitas vezes) na internet, criando um jeito inédito de se engajar com o esporte e com os atletas. [link]
🤳
atletas e influenciadores
finalmente alguma emissora entendeu o poder das redes sociais na vida de um atleta. e é claro que foi a cazétv.
para além dos likes, seguidores chamam patrocínio e publicidade e geram renda e visibilidade para os atletas brasileiros, muitas vezes esquecidos pelas marcas nos quatro anos que dividem uma olimpíada da outra.
por culpa do cazé, o time brasil aumentou em 89% sua base de seguidores nos primeiros sete dias de competição. [link]
😠
eu sou uma pessoa ruim?
a nova campanha da nike deu o que falar. indo contra toda a ideia do espírito olímpico, mas ainda assim trazendo uma narrativa potente, que incomoda e engaja na mesma medida. [link]
🎞️
adeus paris, olá los angeles!
para as olimpíadas de 2028, los angeles promete uma mistura de esporte e arte para representar o melhor da cidade. eu estou simplesmente apaixonada pela estética do do logo (que conta com 32 versões, propostas por atletas e artistas - entre eles billie eilish). [link]
🥹
nossa torcida vale ouro
impossível não se emocionar com o depoimento do gringo que, pela primeira vez, passou as olimpíadas no brasil. os gregos podem até ter inventado o espírito olímpico, mas a verdade é que ele fica bem melhor com o nosso tempero. [link]
eu gosto de ler você porque fica claro que, além de gostar do esporte, você gosta da história de quem pratica o esporte, e de quem planeja o esporte. você se interessa por essas histórias, igual a mim - a gente não entende de esporte, mas a história de quem pratica ele nos interessa. mais uma edição impecável, Lê! <3