[edição 32 | tempo de leitura: 6 minutos]
antes que eu abrisse mais um e-mail, minha mãe entrou no quarto com uma caixa na mão:
"olha o que eu achei"
ali dentro estavam as Barbies que eu e minha irmã acumulamos na infância.
enquanto olhava as bonecas, recordei os tempos simples que fizeram de mim uma adulta feliz.
me impressionei por alguém (que não eu) ter o cuidado de guardá-las por todos esses anos.
sem eu nunca ter pedido, ou sequer notado, as Barbies sobreviveram à uma mudança de casa, à minha renúncia das bonecas na adolescência, ao meu esquecimento na vida adulta.
e ali estavam todas elas, na minha frente, graças a quem sabia que, em algum momento, lá no futuro, faria sentido revê-las.
graças à minha mãe.
“nós, mães, ficamos paradas para que nossas filhas possam olhar para trás e ver o quão longe elas chegaram”.
essa foi a frase do tão esperado filme da Barbie (que finalmente assisti no último domingo) que me fez entender a grande mensagem por trás do figurino cor-de-rosa:
a complexa e profunda relação entre mães e filhas.
imaginar minha mãe com a minha idade sempre me faz pensar na velocidade com que o mundo se reconfigura.
em pouco tempo, muito muda.
a moeda
a tecnologia
as profissões
os medos
as ambições
os sonhos
as relações
mas também me impressiona o quanto minha mãe precisou se reconfigurar em pouco tempo.
ela viveu seus 20 anos na década de 80, e os reviveu mais uma vez quando eu cheguei aos meus 20 anos.
eu imagino que é o acontece com toda mãe que tem a chance de assistir seus filhos crescerem: vivem a infância, a adolescência e a vida a adulta mais uma vez, só que agora com o peso da experiência nas costas, com os seus valores já enraizados, com o seu senso de certo e errado definido tantos anos antes pelos ensinamentos dos seus próprios pais, que por sua vez, também se reconfiguraram para criar seus filhos.
a cada nova geração, uma nova configuração.
filhos que nascem em um mundo novo e pais que precisam se adaptar ao novo para entendê-los.
mas nós sabemos que, por mais que ambos os lados se esforcem, o embate entre o velho e o novo é inevitável, e (quase) sempre gera conflito.
essas tensões geracionais têm um papel importante na construção do futuro.
ao cruzar:
os sinais no presente que nos empurram em direção a algo novo,
as certezas do passado que fazem ou não sentido no agora, e
os caminhos do futuro que nos atraem
dá para identificar os possíveis cenários que nos esperam.
em cada família, existe uma linha que liga o passado e o futuro e, muito provavelmente, essa linha é você, um filho/filha, vivendo o presente.
eu olho no espelho e enxergo a filha.
quais são os problemas com os quais eu lido hoje? o que parece estar mudando a minha forma de viver como mulher no mundo de hoje? quais são minhas principais preocupações sobre o futuro?
eu olho para trás e enxergo minha mãe.
quais verdades da sua juventude continuam moldando o pensamento presente? quais ensinamentos continuam fazendo sentido e devem se manter? que tradições não servem mais para o mundo de hoje e estão prontas para ficar para trás?
e quando olho lá na frente, vejo de um jeito ainda muito abstrato, por trás de uma neblina difícil de decifrar, a futura neta da minha mãe.
qual é a imagem do futuro que eu gostaria que ela conhecesse? quais outras variações de futuro existem? quais cenários me dão medo e eu desejaria evitar que ela encontrasse?
o confronto dessas três representantes do tempo (mãe, filha e neta) ajuda a identificar o que fica, o que sai e o que ainda vai chegar.
e, mais do que isso, deixa claro o que é preciso fazer para construir o futuro que queremos que as nossas futuras versões vivam.
📄 como podemos antecipar futuros plausíveis? (Futures Platform)
📄 citação de 'Barbie' me fez reexaminar relacionamento com a minha mãe (Insider)
novidade: a partir de agora os links compartilhados em cada edição ficarão salvos no banco de teorias, o acervo de links da teoricamente :) assim fica mais fácil de encontrar aquele artigo legal que você esqueceu de salvar ou a indicação do podcast que você não lembra o nome.
🎧
para ouvir: uma conversa entre pai e filho sobre propósito, com Mario Sergio Cortela e Pedro Cortella. durante o podcast fica claro o peso das diferenças geracionais quando o assunto é trabalho. me fez lembrar a edição #9 da teoricamente:
🎞
pra assistir: algumas partes do filme da Barbie me lembraram muito esse filme aqui, que eu fui assistir só porque tinha o Harry Styles e acabei assim: 🤯
📱
pra acompanhar: como poderá ser o futuro, quando a feminilidade for um traço valorizado no mercado de trabalho? é a questão que o projeto Femmetopia de
e Maria Clara Pessoa responde (de um jeito bem genial).
Sabia que dá pra curtir esse texto? É só clicar no coraçãozinho ❤️ no início ou no fim do e-mail.
oi!
hoje é aniversário da minha irmã, o bebê fofo da foto lá no começo da edição.
uma coisa que ninguém te conta quando você implora por uma irmã no auge dos 5 anos de idade é que, assim que ela nasce, uma ligação profunda entre vocês nasce também. o tempo passa e ela não se enfraquece.
vendo minha irmã completar 21 anos hoje, eu me sinto assoprando as velas dos 21 outra vez. a cada ano que ela completa, eu completo mais um ano vivendo no mesmo mundo que ela. e sou grata por isso.
feliz aniversário, Lari! te amo demais :)
a teoricamente volta quarta que vem, com mais reflexões legais, até lá!
Le
👩🏼💻 A Teoricamente é escrita por Leticia, profissional de comunicação sempre estudando sobre futuro, comportamento e narrativa. Você pode me encontrar no LinkedIn e no Instagram (com mais frequência do que deveria).
Incrível e inspiradora! ♥️ Obrigada por compartilhar o Femmetopia 🫶
Amo muito vc filha, orgulhosa em ver vc se tornando uma excelente escritora.