[edição 33 | tempo de leitura: 5 minutos]
mudar nunca é confortável.
existe um aconchego no conhecido, no rotineiro, no igual.
existe paz no mesmo.
mas do outro lado também existe a possibilidade do surpreendente, do novo, das alegrias que moram no desconhecido.
talvez, a curiosidade de saber o que tem na outra ponta do tempo justifique a angústia de estar no presente com a cabeça dividida entre passado e futuro.
e quem sabe a vida seja mesmo um eterno meio do caminho entre um e outro.
essa semana assisti um vídeo em que o entrevistador perguntava “o que é a vida?” e a entrevistada respondia que
a vida é a gente se distraindo do fato de que vamos morrer.
e desde que ouvi isso não consigo pensar em nenhuma definição melhor.
essa resposta curta me fez refletir sobre como tenho me distraído.
será que o trabalho e a busca incessante pela felicidade (que o mundo sempre nos faz acreditar que mora nas coisas que não temos) é o melhor jeito de se distrair do fato de que, inevitavelmente, em algum momento, todo mundo vai morrer?
ainda com esse assunto ecoando na minha cabeça, comecei a me deparar cada vez mais com conteúdos espalhados pela internet promovendo uma nova filosofia para uma vida mais feliz.
e uma frase se repetia em todos os posts:
“romantize sua vida”
como uma boa garota geração z, digitei essas três palavras no tiktok, e descobri que o termo "romanticize your life” ou, em português, "romantize sua vida” já conta com 1.9 bilhões de vizualizações e incontáveis vídeos em línguas diferentes sobre como fazer da sua vida mais feliz, simplesmente tornando a rotina o mais próximo possível de uma cena de filme.
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“todo este conceito explodiu em 2020, quando idealizar a vida normal permitiu que o mundo assolado pela pandemia desestressasse – mesmo que só um pouquinho.”
é o que diz esse artigo do The Heights, jornal da Universidade de Boston, nos Estados Unidos.
ele continua assim:
“o romantismo pode ser um medicamento para os estressados e uma tática poderosa para aqueles que perderam o amor por esse mundo. ele pode ainda desacelerar o pensamento e acalmar um mundo caoticamente carregado. se capturado e postado, o conceito pode até mesmo elevar seus feeds nas redes sociais para serem mais esteticamente agradáveis.”
ou seja,
quando registrada e publicada, sua vida romantizada vira conteúdo.
isso me fez lembrar o início do instagram, com os feeds cheios de fotos de café da manhã em molduras e filtros vintage com frases reflexivas sobre a vida.
e me passou pela cabeça o tumblr, talvez o espaço mais romantizado (para o bem e para o mal) que já existiu na internet.
pra mim, o aumento de adeptos a romantizar vida é mais um sinal de que estamos, aos poucos, voltando às origens.
talvez, esse seja o início do fim dos feeds altamente profissionais, educativos e marketeiros para um regresso silencioso aos perfis dos amigos pessoais compartilhando momentos felizes, registrando um prato que achou bonito ou uma foto que o fez sentir um fotógrafo profissa.
talvez, seja o momento dos escritores, cinegrafistas, poetas, ilustradores, fotógrafos e todos os outros artistas amadores se tornarem novamente os protagonistas do ambiente digital, enquanto todo o resto ainda continue ali, mas ocupe um espaço menor do que tem hoje.
talvez, as redes voltem a ter alguns espaços apenas para entretenimento, reflexão e respiro do mundo real.
eu, romântica incurável, torço para que sim.
romantizar a vida é mais um jeito de fugir da realidade e isso tem tudo a ver com o escapismo, uma das tendências de criação e consumo de conteúdo no digital para os próximos anos, segundo um estudo da WGSN com o Tiktok.
📁 falamos sobre isso na edição #31 - como você tem se alienado?
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“especialistas dizem que a tendência de romantizar a vida pode ter perdurado [pós-pandemia] em parte porque é uma nova forma de explorar a atenção plena – a prática de prestar atenção ao momento presente e tornar-se consciente das suas sensações físicas, pensamentos e emoções de uma forma sem julgamentos”.
📄 esse artigo do The New York Times analisa a trend que nasceu na pandemia e segue ganhando adeptos
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novidade: a partir de agora os links compartilhados em cada edição ficam salvos no banco de teorias, o acervo de links da teoricamente :) assim é mais fácil de encontrar aquele artigo legal que você esqueceu de salvar ou a indicação do podcast que você não lembra o nome.
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para ouvir: esse episódio do podcast gostosas também choram, da Lela Brandão, foi tipo um abraço quentinho no jovem adulto (e tem tudo a ver com o tema da edição)
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pra assistir: estou oficialmente viciada em sucession e em todos os diálogos e conflitos dessa família podre de rica
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nas redes: o vídeo que eu cito na abertura da edição de hoje é esse aqui da Jout Jout e, assim como muitas das falas dela, vale a pena ouvir
Sabia que dá pra curtir esse texto? É só clicar no coraçãozinho ❤️ no início ou no fim do e-mail.
oi!
essa semana eu mudei de casa e, apesar de ser algo que eu sempre sonhei em fazer, doeu.
me lembrou aquela dor que a gente sente atrás do joelho quando tá em fase de crescimento, sabe? a gente fica feliz em saber que tá ganhando uns centímetros, mas mesmo assim, dói.
entre o medo e a felicidade de crescer, seguimos.
a teoricamente volta quarta que vem :)
até mais,
Le
👩🏼💻 A Teoricamente é escrita por Leticia, profissional de comunicação sempre estudando sobre futuro, comportamento e narrativa. Você pode me encontrar no LinkedIn, no Instagram e agora no Tiktok também (com mais frequência do que deveria).
Tenho pensando muito nessa beleza do ordinário. Acho que já faço um pouco essa coisa de romantizar a vida com uma playlist no spotify, não vira conteúdo, mas
❤️