[edição 22 | tempo de leitura: 5 minutos]
09 de julho de 2022
Enquanto sobrevoo um mar de montanhas cobertas de verde, em algum lugar entre Amsterdam e Barcelona, declaro em pensamento que sou livre, que sou o mundo inteiro.
Assim como habito esse planeta, ele também habita em mim. Ele mora nas vontades que tomam forma aqui dentro.
Meu ouvido está tampado por culpa da pressão. Me incomoda, mas não luto contra. O silêncio de fora dá espaço às minhas vozes de dentro.
Escuto à mim mesma enquanto pouso em um lugar em que nunca pisei antes.
Que parte de mim Barcelona me ajudará a encontrar?
*
10 de julho de 2022
É estranho pensar que o mundo continua girando no mesmo eixo depois que alguém que amamos tanto deixa de existir.
Apesar de tudo parecer igual, sinto que uma pequena porcentagem do brilho da terra se foi. Não são todos que percebem a mudança, só os diretamente afetados podem ver, mas o dano para o planeta é real.
Um brilho a menos iluminando os dias.
Vá com Deus minha vó amada. Meu amor por você continua gigante, nosso tempo juntas foi curto, mas poderoso. Sei que agora te tenho para muito além de uma visita em seu quarto, está em todos os lugares e também dentro de mim.
No livro "Pequena Coreografia do Adeus”, um dos meus favoritos, muitas coisas importantes acontecem de uma vez só em pouquíssimas páginas, lá no finalzinho do livro. Durante uma entrevista, a autora Aline Bei se justificou dizendo: "é porque a vida é assim".
E é mesmo.
Passamos semanas, meses e anos num cotidiano com acontecimentos pequenos e simples, quando, em um dia diferente de todos os outros, várias notícias se embolam em uma só.
Foi nisso que pensei na tarde do dia 9 de julho de 2022, sentada na beira da praia sozinha, sem entender como eu poderia estar ao mesmo tempo feliz e triste por estar lá.
Folheando meu caderno,
(que é onde anoto o que sinto quando acho que preciso), encontrei esses dois textos que iniciam a edição de hoje, um ao lado do outro.
A dor que senti ao perder minha vó enquanto estava a um oceano de distância do abraço da minha mãe, apagou aos poucos a alegria de chegar em Barcelona e a felicidade de me encontrar sozinha desbravando um lugar onde ninguém se quer sabia meu nome.
Mas, quase um ano depois, o registro no caderno me levou de volta para aquele avião prestes a pousar, e me fez sentir o coração acelerar de alegria, assim como aconteceu em 9 de junho de 2022, horas antes de atender a ligação da minha mãe enquanto deixava minha mala no quarto do hostel.
A vida não é feita de acontecimentos sincronizados e ordenados,
mas de uma chuva de momentos que se misturam, e cabe a nós descobrir como guardá-los com a gente, para que, ao olhar para trás, nossa história não seja feita só daqueles que nos machucaram, mas também dos que nos fizeram feliz. E às vezes os dois podem ter acontecido no mesmo dia, e estarem registrados lado a lado, em um caderno qualquer guardado na estante.
Depois de ouvir de um pediatra que as crianças, ao crescerem, deixam de se lembrar de coisas que aconteceram até os sete anos de idade, o jornalista Alberto Villas decidiu comprar um caderno pra registrar os acontecimentos da sua casa e do mundo de cada dia dos primeiros sete anos de vida do seu primeiro filho.
O projeto que tinha data marcada para terminar conquistou a família toda e continua até hoje. Os chamados "Cadernos da Família” são uma linha do tempo que começa lá nos anos 70 e já rendeu várias edições. Todo almoço de domingo na casa da família Villas termina com um café e horas de recordação folheando os cadernos que, segundo Alberto, é a maior herança que deixa para os filhos.
Sabia que dá pra curtir esse texto? É só clicar no coraçãozinho ❤️ no início ou no fim do e-mail.
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🎤 Uma playlist com músicas não tão conhecidas da grande e eterna Rita Lee.
💌 A
dessa semana falou sobre o passado e a morte num mundo pós inteligência artificial, um tema que a gente já tinha conversado por aqui na edição #10, mas sob a perspectiva do design. Sério, imperdível. Leia aqui.🧘🏼♀️ A meditação tem sido uma boia salva-vidas que eu guardo em segredo. Esse texto da
fala da prática de um jeito sensível e verdadeiro.Oi!
A edição de hoje foi mais curtinha, pra combinar com o pouco tempo que as últimas semanas têm me dado para escrever 🥲
Queria aproveitar que citei minha mãe e minha avó no texto de hoje e dedicar essa edição para as duas. Meus grandes exemplos de mães mas, sobretudo, de mulheres.
Até quarta que vem,
Le
“Eu nunca tinha pensado na Barbie dessa maneira, justamente porque sempre que leio algo sobre a boneca é criticando negativamente. Mas de fato, eu lembro que tinha uma Barbie veterinária e que por longos anos quis ser veterinária por causa dela. Pense só: uma menininha dos anos 1990 que pensava em quando crescer ter uma profissão e não em ser mamãe de uma Barbie e cozinhar em panelinhas”.
Recebi esse comentário na última edição da Teoricamente e ele me deu um quentinho no coração. Foi exatamente esse tipo de memória que me fez escrever uma edição sobre a Barbie.
Se você ainda não leu, é só clicar aqui :)
👩🏼💻 A Teoricamente é escrita por Leticia, profissional de comunicação sempre estudando sobre marca, comportamento e narrativa. Você pode me encontrar no LinkedIn e no Instagram (com mais frequência do que deveria).
mais um texto foda!
parabens, Le!